quarta-feira, 28 de outubro de 2009

sugado ao mim de mim...

Mineração do outro

Os cabelos ocultam a verdade.
Como saber, como gerir um corpo alheio?
Os dias consumidos em sua lavra
significam o mesmo que estar morto.

Não o decifras, não, ao peito oferto,
monstruário de fomes enredadas,
ávidas de agressão, dormindo em concha.
Um toque, e eis que a blandícia erra em tormento,
e cada abraço tece além do braço
a teia de problemas que existir
na pele do existente vai gravando.

Viver-não, viver-sem, como viver
sem conviver, na praça de convites?
Onde avanço, me dou, e o que é sugado
ao mim de mim, em ecos se desmembra;
nem resta mais que indício,
pelos ares lavados,
do que era amor e dor agora, é vício.

O corpo em si, mistério: o nu, cortina
de outro corpo, jamais apreendido,
assim como a palavra esconde outra
voz, prima e vera, ausente de sentido.
Amor é compromisso
com algo mais terrível do que amor?
pergunta o amante curvo à noite cega,
e nada lhe responde, ante a magia:
arder a salamandra em chama fria.

Carlos Drummond de Andrade


Beatriz

"Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida.
(...)
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz." Chico Buarque


Mais do mesmo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Na natureza selvagem


"Há um tal prazer nos bosques inexplorados;
Há uma tal beleza na solitária praia;
Há uma sociedade que ninguém invade,
perto do mar profundo e da música do seu bramir.
Não que eu ame menos o homem,
mas amo mais a natureza."
Lord Byron*



O filme é de uma magnitude tão reveladora pra mim que tecer qualquer comentário seria mero.
Trata-se da história real de Christoper McCandless, um jovem recém-Licenciado, bom aluno, bom filho, que abre mão do horizonte de oportunidades comerciais e financeiras e vai embora sem um rumo determinado. Decepcionado com sua família, sempre mergulhada em violência e mentira, cansado de uma sociedade hipócrita fundada em valores materialistas, batizou-se de Alexander Supertramp e foi buscar sua verdade no contato puro e entregue com a natureza. Um filme sobre o mal-estar na sociedade, o poder, a resistência, 'a lei natural dos encontros', a magia da leitura, o amor, a vida e a morte.
Eu não tenho lá talento com resenhas de filmes, sobretudo quando ele fere e desperta sentimentos cuja forma e compreensão ainda não alcancei. Mas eu recomendo.

"Ja vivi muita coisa e agora acho que sei o que é preciso para ser feliz. Uma vida mansa e isolada no interior com a possibilidade de ser útil a quem é fácil ser bom. Pessoas que não estão acostumadas a serem servidas..." Tolstoy*

" A felicidade só existe quando compartilhada." Christoper McCandless*


* Frases e autores citados no filme.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Como dois e dois são cinco

http://www.youtube.com/watch?v=A7Z_qIJwaZs

Quando você me ouvir cantar
Venha não creia eu não corro perigo
Digo não digo não ligo, deixo no ar
Eu sigo apenas porque eu gosto de cantar
Tudo vai mal, tudo
Tudo é igual quando eu canto e sou mudo
Mas eu não minto não minto
Estou longe e perto
Sinto alegrias tristezas e brinco

Meu amor
Tudo em volta está deserto tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco

Quando você me ouvir chorar
Tente não cante não conte comigo
Falo não calo não falo deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam pra consolar
Tudo vai mal, tudo
Tudo mudou não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco, o mesmo teto
E a mesma lua a furar nosso zinco

Meu amor
Tudo em volta está deserto tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco

Caetano Veloso

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A priore et posteriore.

Eu sou - arrisco - a busca
ininterrupta
pelo sentido de cada catarse.
aimplosãosinestésicadeumcoraçãoimprevisível.
o imp
asse do reflexo.
um ver a si inverossímel.
a dura ruptura do reproduzido.
O encontro fluido e incapturável
com o tudo e o vazio.
a procura do que há de mundo e do que há de mim
na poesia.
O equilíbrio vão entre o caos e a ordem.
Aquilo que os muros concretos vulgarmente chamam de jovem.


"(...)Sombra, silêncio ou espuma.
Nuvem azul
Que arrefece.

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Que em mim amadurece."
(Amor - Secos e Molhados)