sábado, 14 de agosto de 2010

Este livro começa onde o leitor o abrir. Ele não tem início nem fim. Serve para o leitor "iniciar-se" na vida do pensador e também para ir além...

"(...)Observamos hoje, no Ocidente, o ressurgimento de interesse por doutrinas vagas, obscuras e experimentalmente errônias, que implicam ausência de espírito de luta e um desvio de energias tão necessárias á nossa sobrevivencia e aperfeiçoamento.
São doutrinas límbicas, ou seja, originadas apenas do hemisfério cerebral direito. Contudo, a ciência moderna tem apontado que a abertura para um futuro brilhante da humanidade reside certamente no total funcionamento do neocórtex - razão complementada pela intuição.
Podemos e devemos - como todos os grandes pensadores - pensar e agir a nível global.
Como eles, devemos nos utilizar, harmoniosamente, do hemisfério esquerdo do nosso cérebro (que está relacionado com o pensamento lógico, racional, analítico) e do hemisfério direito (que está relacionado com a intuição, criatividade e imaginação). O ser humano deve aprender a pensar holisticamente.
Toda criatura humana é um ser que nasceu pra vencer, pra realizar seu potencial como criatura-criadora . Mas pra facilitar esse trabalho de auto-aperfeiçoamento, ela precisa de um modelo ou paradigma.(...)"

E enfim, esse é um pedaçinho do capítulo de apresentação do livreto biográfico do Fernando Pessoa. É a coleção "O pensamento vivo de", impresso na primavera de 1988.
Ainda não li por inteiro. Mas ja mexeu com os dois hemisférios do meu cérebro e, de quebra, com os hemisférios ocidentais e orientais do meu coração.
Dá vontade de caçar a coleção inteira, que apresenta as principais idéias de pessoas (acho que posso chamar de pessoas) como Einstein, Chaplin, Buda, john lennon, Sócrates, glauber Rocha, Voltaire, Machado de Assis, Sartre, Shakespeare, vários outros, além do nosso fundamental Fernando Pessoa. E ja no capítulo que segue...: Pessoa por ele mesmo...

"É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter.
A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e dúvida. Nada é ou pode ser positivo pra mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo pra mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo esta cheio de significado. Todas as coisas são 'desconhecidas', simbólicas do desconhecido. Em consequência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente.
Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou a infância, pela influencia dos estudos realizados sobre o impulso delas(dessas mesmas tendências), por tudo isto meu caráter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma. Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho."

E aí eu ja não preciso dizer mais nada.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Traço simples

A cidade acelera os corações dispersos.
Eu, sentada neste ponto, enquanto as máquinas se cruzam com pressa,
o sol inquieta os apressados e o tempo se comprime em rastros de imperfeições,
eu,
absolvida,
absorvida em atenção e sentido,
observo um casal de andorinhas sobrevoando o caos como se ali nada houvesse.
Juntas, desafiando a força do vento e a ele se entregando.
Cada qual com sua penagem, sua coragem, uma mais pretinha, a outra coradinha e eu
me pergunto: Estão juntas as andorinhas?
E a resposta logo me pousa quando pousam pois, as andorinhas, num fio de energia.
A mim não cabe saber porque voam unidas se no céu outras tantas seguem em bando.
Eu me contento em assistir o espetáculo de uma aventura a dois e levito na cidade enquanto o ônibus não vem.
Que sorte a minha.
Bem aventurados os expectadores do mundo.